
série
devires-memória
DEVIRES MEMÓRIA
O presente configura-se em meio a paisagens que por vezes se tornam transitórias e sazonais, ou por sítios que preservam preciosas ruínas e outros que se encontram em plena construção planificada em contemporaneidade. Um verdadeiro estado onde devires e memória transitam livremente em movimento de atualizações.
O que se atualiza “não é o que somos, mas aquilo em que vamos nos tornando, o que chegamos a ser, quer dizer, o outro, nossa diferente evolução. (...) aquilo que somos em devir: a parte da história e a parte do atual. (...). Sendo que a história e o arquivo são o que nos separa ainda de nós próprios, e o atual é esse outro com o qual já́ coincidimos.”
DELEUZE, Gilles.
O que faz uma memória social manter-se visível ou deixar de ter visibilidade? No interesse do aprofundamento poético e das marcas pessoais como artista, desafio-me entrar na relação com as memórias sociais, incluindo as que não fazem parte de minhas vivências pessoais, como experienciação do desejo de devir-outro, na intenção de criar um composto híbrido feito de memória e invenção pictórica; de relatar fatos e fantasias; de... Essa relação produz um novo habitar artístico que acontece nos deslocamentos do conhecido em direção ao que ainda há, simultaneamente, por conhecer e por inventar. Portanto, não se trata de buscar o que pode ser reconhecível no desconhecido. O que se quer é produzir diferença no espaço-memória pessoal e extrapessoal.
As ruínas de edifícios públicos, quintas e de fábricas abandonadas, são para mim matéria-prima e campo para captação de imagens que fazem emergir indícios de um passado, provocando tensionamentos em meu imaginário e abrindo um novo campo significante que possibilita criar a génese de uma história híbrida composta por meu imaginário e a história do sítio com qual me relaciono. Ao intervir nesses espaços com a ocupação da pintura em site specific, a história do local e a ficcional passam revelam-se e velam-se, confundindo e espalhando molecularmente essa força por todos os cantos, por todas as rachaduras, por todos os escombros e sobras dos seus sítios originários.
As pinturas retratam os vestígios de memória encontrados nos seus locais de origem, partem de objetos e peças que ainda habitam os sítios em ruínas, que na atualidade estão deslocados dos seus estados originários e, por vezes, de suas funcionalidades. A intenção é dar visibilidade pictórica aos novos modos de existência e criar-lhes outra perspectiva, valorizando a necessária importância de uma existência mínima na composição matérica de um corpo social.

















