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série
morada-memória rés do chão

MORADA MEÓRIA RÉS-DO-CHÃO
a série de pinturas morada-memória rés do chão tem como referência e inspiração as casas e edificações em estado de ruínas que constituem a paisagem de Portugal e, mais especificamente, do Seixal. a partir dessas ruínas, são criadas pinturas nas quais o principal elemento figurativo é a recomposição-síntese das estruturas daquelas memórias físicas em estado de decomposição. nas telas, as edificações não reconstituem suas formas originais, tampouco retratam suas condições atuais. o que se visualiza são remodelações pictóricas para melhor habitar em imagem a força que sustenta cada edificação. essa força condensa-se pictoricamente em monoblocos, sobrepondo cores, texturas, opacidades e transparências. são moradas compactas de memórias extrapessoais e diversificadas cujas géneses se deram no encontro entre o artista e as ruínas. o interior das casas e dos edifícios se apresenta inevitavelmente na pintura de modo invisível aos olhos, porque só é possível sentir o que lá possa haver. o que passa a habitar, então, na pintura, e mais especificamente no interior das moradas retratadas, é o encontro entre a imagem que se visualiza e a que se visibiliza por meio da singularidade do olhar de quem a vê, ou cada afeto que emerge diante da composição que se faz entre pintura-olhar - encontro que lança o espectador para a morada de sua memória. o fato da morada-memória estar ao rés do chão, é por ser construída necessariamente em uma base de sustentação da existência. ela é em si um plano de construção realizado, diferente de um projeto ou uma virtualidade de apelo nostálgico do que poderia ter sido edificado. portanto, memória não é sentir falta, mas a presença extemporânea de uma vida. não há portas e nem janelas nas figurações-síntese das edificações, por não necessitarem de acessos ou saídas do ou para o seu interior. também não há necessidade de se conectarem com áreas externas ou com anexos, porque cada morada-memória situa-se em uma região única que insiste manter-se em seu interior. mesmo sendo um bloco, o seu interior é suscetível a transformações, a reinvenções de si mesma quando a memória deseja movimenta-se entre seus cômodos para reacomodar-se, inventando um novo habitar na mesma morada, um novo ponto de vista para mirar a si mesma. o único ponto de fuga que há, escapa pelo destelhamento e verte-se ao cosmos, deslocando a presença da memória do rés do chão para um plano em que se possa esboçar um movimento de desterritorialização vertical para se reterritorializar diferentemente no mesmo plano horizontal de sua morada – movimento do desejo, do devir-outro, um composto híbrido feito de memória e invenção que acontece nos deslocamentos do conhecido em direção a “terra incógnita” ainda por conhecer e por inventar. portanto, este trabalho artístico não se trata de buscar o que pode ser reconhecível no desconhecido. o que se quer é produzir diferença no espaço-memória do espectador à encontrar-se no vão existente entre memória pessoal e extrapessoal.

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